sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"O homem chega e já desfaz a natureza...



 
... tira a gente, põe represa, diz que tudo vai mudar…"


Há momentos na vida em que precisamos por em prática aquilo que planejamos… em que temos que viver o dia sem adiar demais nossos desejos. Porque o tempo passa e os momentos passam também.

Pensei nisso esses dias ao rever algumas imagens das Sete Quedas do Rio Paraná em huma antiga reportagem da Globo.

Eu nem era adolescente ainda quando vi pela primeira vez as fotos das imensas quedas d'água num fascículo de enciclopédia que eu colecionava na época. A matéria no fascículo dizia que os Saltos de Guaíra, mais conhecidos como Sete Quedas, era a maior queda d'água do mundo em volume de águas, maior até mesmo que as famosas cataratas do rio Niágara. Fiquei fascinado com a informação e com as imagens, e prometi para mim mesmo que hum dia veria de perto aquela maravilha da Natureza.

Porém, como diz a música de Luis Carlos Sá e Guttenberg Guarabyra aí em cima, o homem resolveu mudar a natureza.

No dia 13 de outubro de 1982, o fechamento das comportas do canal que desviava as águas do rio Paraná começou a sepultar hum dos maiores espetáculos da terra. Sete Quedas foi totalmente submersa para a formação do lago de Itaipu e construção da enorme usina hidrelétrica de mesmo nome. A concessão para exploração do aproveitamento hidráulico nesse trecho do Rio Paraná já havia sido outorgada pelo governo desde 1979, e o primeiro projeto, totalmente nacional, previa o desvio do rio logo acima das quedas, sem prejuízo para o fluxo das águas, construindo 3 usinas num canal de cerca de 60km, menores que Itaipu, mas que, juntas, gerariam mais energia que ela. E, logo depois da última usina, as águas seriam devolvidas ao rio, preservando as Sete Quedas. Porém, no auge do regime militar, o governo não abriria mão de executar huma obra que, sozinha, se mostrasse pujante, e representasse poderio progressista.

O projeto de usina totalmente nacional preservaria as Sete Quedas e evitaria uma série de “efeitos colaterais”. Teriamos as quedas, relações possívelmente melhores com o Paraguai, que nós sustentamos, comprando excedente de energia, mas para o qual somos vilões, e uma posição firme de preservação que, já na década de 70 poderia ser catalizador para uma política de preservação ambiental que impedisse uma série de absurdos cometidos nas últimas décadas em nome do “progresso”.

A megalomania, porém, venceu o bom senso. E eu, que tinha acabado de completar 13 anos de idade, senti o baque de perder em menos de hum ano, a possibilidade de realizar dois dos meus maiores desejos: ver Elis ao vivo e as Sete Quedas de perto.

Sei que eu era muito novo para me decidir a fazer huma viagem ou ir sozinho assistir a hum show. Mas procuro lembrar dos acontecimentos desse ano quando me vejo constantemente adiando as coisas que quero fazer. E isso me estimula a decidir por em curso tudo aquilo que me faz aproveitar melhor os meus dias.

A vida acontece hoje!


"Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
a memória dos índios, pulverizada,
já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
aos apagados fogos
de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se
os sete fantasmas das águas assassinadas
por mão do homem, dono do planeta.

Sete quedas por nós passaram,
e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,
e todas sete foram mortas,
e todas sete somem no ar,
sete fantasmas, sete crimes
dos vivos golpeando a vida
que nunca mais renascerá."

(Carlos Drummond de Andrade)




2 comentários:

Luciana de Melo disse...

A vida acontece hoje!!!
Preciso constantemente me lembrar disso...rs

Unknown disse...

Infelizmente o homem é predador e não pensa em si mesmo, apesar de, paradoxalmente só pensar em si.

Como entender bem isso?

Mas continue fazendo planos, sei que os realizará.
Parabéns pelo post. Gostei muito!^^

Beijo enorme!