segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sensação rosa


















Sempre fui hum entusiasta da arquitetura da língua... as palavras me fascinam. Gosto de brincar com elas. Esculpir huma frase... desenhar huma sentença... lapidar hum verso...

Mas a língua não é apenas o campo léxico. E verbos, objetos, substantivos ou adjetivos são o suficiente para exprimir huma idéia, mas muitas vezes são ainda pouco para detalhar huma sensação.

Eu percebi isso muito claramente quando huma amiga, há algum tempo atrás, tentava me descrever hum momento que ficou em sua memória... hum momento embaixo de hum ipê roxo quando o sol passava por trás de seus galhos. Suas flores cor de rosa refratando a luz do sol... inundando tudo com essa cor. Eu entendia tudo o que ela
escrevia... e podia ver, na minha mente, a cena. Mas era apenas hum quadro que se pintava... faltava algo. Então ela me disse que a sensação que ela teve no momento foi huma "sensação rosa"...

Era isso apenas... huma expressão que não faria sentido em nenhuma outra frase me fez quase experimentar a mesma sensação que ela teve. Huma sensação rosa... nada mais.

Parece algo tão inverossímil quanto Bilac ouvindo estrelas...

Mas quando penso nisso, até mesmo as letras incompreensíveis de Zé Ramalho parecem fazer sentido... Nem sempre as palavras estão ali para serem entendidas... mas talvez para serem sentidas também.

Nós, muitas vezes nos apegamos demais ao raciocínio e deixamos de lado intuição e sensibilidade. Não levamos em conta que razão e a emoção se completam, mas são antagônicos. É hum paradoxo... pois sem a razão ou a emoção o ser humano jamais teria evoluído. Foi a razão que fez o homem se inquietar com o mundo e fazer perguntas que o distanciavam dos outros animais... e a emoção o fez encontrar respostas onde nem haviam perguntas.

Ouvir estrelas, então... e sentir palavras também...